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O culto às celebridades de rede social, algoritmos que hackeiam nossos desejos, a falência da política de intolerância às drogas… Essas são algumas das questões particularíssimas do século 21.
Mas, para refletir sobre esses assuntos em seu novo EP, “Surreal”, o cantor e compositor baiano Pessoa recorreu ao bom e velho Rock ‘n’ Roll, demonstrando que o gênero continua a ser uma das formas mais questionadoras do campo da arte.
Noutras palavras, apesar de quase centenário, o rock ainda tem muito a dizer sobre e para os novos tempos.
As canções de “Surreal” falam primeiro com o corpo, pelo groove, pelo ritmo, pelo suingue que têm. Quando, então, o corpo balança, a letra chacoalha a cabeça.
O texto de Pessoa é imagético, como o cinema (“Narciso segue rumo ao afogamento”), com boas doses de sarcasmo (“O erro do desenvolvimento é o tipo de fumaça”) e repleto de propostas ou de recomendações, ora árduas (“Encarar o abismo e o que ele nos revela”), ora reconfortantes (“Você, no espaço-tempo, tem sua diligência”).
Mas, jamais imperativo — nunca uma ordem ou comando. “Até porque as canções derivam de reflexões coletivas que me chamaram atenção durante o confinamento da pandemia, e são ideias que ainda estão em elaboração”, destaca o compositor.
“Cantá-las é uma forma de lhes dar algum sentido, mas não um sentido definitivo”. São cinco as faixas que condensam variadas ideias. “Surreal” — um “blues irônico” – segundo o autor, a escolhida para abrir e batizar o álbum tem participação especial do bluesman Eric Assmar.
“Big data”, parceria com Ronaldo Nobre, fala sobre os dilemas da sociedade da informação. A saga-canção “O bom filho à casa torna” narra uma viagem pelo mundo – cada vez mais xenófobo.
Já em “A lei”, as responsabilidades individuais e coletivas para o enfrentamento à pandemia da Covid-19 são o tema principal. E, para fechar em grande estilo, surge o que Pessoa chama de “rock haicai”: a canção “Bufo Alvarius”, que trata do uso indevido do conhecimento.
Produzido por Iago Guimarães, “Surreal” foi todo gravado remotamente e concebido durante aquilo que Pessoa chama de seu “período de quarentena criativa”. O cantor explica: “Essa tem sido a modalidade de trabalho com Iago. Vínhamos produzindo singles ao longo do ano e, quando chegamos em ‘A lei’, percebi que estávamos diante de uma estética musical que haveria de se desenvolver em outras canções”.
Tal estética se manifesta sonoramente em arranjos cheios de energia, virtuose e criatividade, condensados em uma potência sonora que é como uma transfusão de múltiplos afetos positivos entre quem canta e quem ouve.
Nestes tempos surreais, que nos impõem distanciamento, isolamento e, por vezes, a solidão, a arte de Pessoa é uma forma de se sentir vinculado. Ouça no volume máximo. (Texto de Breno Fernandes)
EP SURREAL – Pessoa
01. Surreal (Pessoa)
02. Biga Data (Pessoa/Ronaldo Nobre)
03. O Bom Filho a Casa Torna (Pessoa)
04. A Lei (Pessoa)
05. Bufo Alvarius (Pessoa)
Produção e Gravação: Iago Guimarães e Pessoa
Mixagem e Masterização: Iago Guimarães (CasinhaLab)
Participação especial: Eric Assmar – guitarras na faixa 1
Capa: Tiago Oliveira
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