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Todo dia é dia de Feira e de Feirantes. Mas a data para reflexões sobre a importância desta categoria é alusiva à primeira feira livre constituída por imigrantes europeus, estabelecidos a partir de 25 de agosto de 1914, no Largo do Osório, na cidade de São Paulo. Para homenagear este grupo de imigrantes, o prefeito de São Paulo, Washington Luís, assinou em 28 de maio de 1934, o decreto de nº 625, que instituiu o dia 25 de agosto como dia dos/as feirantes e também oficializou os mercados e feiras livres da cidade de São Paulo. Mas, as feiras existem como centros de trocas, há milênios e todas as culturas do mundo desenvolveram esta forma de circulação de mercadorias. Sejam elas fixas ou permanentes, em terra firme ou flutuante, se constituíam não só em territórios especializados no abastecimento de gêneros essenciais à vida, mas possibilitavam o encontro regular de produtores e consumidores de mercadorias, se convertendo em fervilhantes centros de troca de experiências e vivências humanas. No Brasil, segundo o antropólogo Luiz Mott(2000) as feiras existem desde o período colonial sejam como feiras-mercado, realizado semanalmente aos sábados o u com feira-franca, realizadas bianualmente, ambas atariam vendedores e compradores oriundos de regiões equidistantes para comercializar bens , dentre eles o gado. Afrânio Peixoto, (1947) destacou a importância das feiras brasileiras como instituições de caráter econômico e sociológico, importantes para aquisição e trocas de mercadorias, e acrescentou que ainda que, a alma da feira é o debate, a barganha , as discussões, a circulação de boas e más noticias , lamurias contra a carestia, política , namoro demais aspectos da cotidianidade entre mulheres e homens. As feiras seguem insistem e persistem em cenários capitalistas e globalizados, nas formas rural ou urbana, móveis, fixas ou permanentes. São nestes territórios que mulheres e homens tiram o sustento seu e de sua prole, em atividades que alimentam milhões de bocas em todo o Brasil. Quanto às mulheres feirantes, especialmente as baianas, herdeiras das práticas do pequeno comercio de rua, consolidado pelas negras, pardas ou mestiças, outrora, ganhadeiras na contemporaneidade continuam se reinventando, existindo e (re) existindo e resistindo, na labuta diária, contra o machismo, sexismo e racismos que 1 Disponível em https://saboravida.com.br acesso em 21 Ago.2020. estruturam sociedades brasileira e por conseguinte a “terra da felicidade” ou “cidade feitiço de dois andares” Dizer que mulheres feirantes foram e ainda são heroínas da resistência não basta; minimizam suas experiências, subjetividades, histórias de vidas… Mulheres, ágeis e hábeis nos seus arranjos e improvisos, nas negociações e nos conflitos, portando sacos, sacolas, balaios, , cestas, tabuleiros e apesar dos obstáculos e condições de trabalho em local insalubre, compõem cotidianamente território místicos e mágicos – que são as FEIRAS. Aqui, rendemos nossa homenagem e respeito às feirantes baianas. Às Judites, Alaides, Joanas, Anas, Marias, Marlenes, Beneditas, Helenas, Cecílias, Cosntâncias, Olgas, Epifânias, Lúcias, Joaquinas, Antônias, Cátias, Sônias… Vendedoras de folhas e artigos para os rituais das religiões afro-brasileiras, de rifas, de carimã, de flores, de feijoadas, de lanches… São milhares, negras, pardas e /ou mestiças que abastecem, alimentam, vendem ou emprestam seus, fazeres, falares e experiências às cidades baianas, especialmente a de Salvador e do Recôncavo Baiano. São anônimas guerreiras, que todos os dias, que antes do sol raiar deixam suas residências e seus filhos/as para mais um dia de labuta em espaços informais de trabalho. Sujeitas historicamente invisibilizadas e excluídas dos nos espaços decisórios e formais de poder, mas através de seus corpos insurgentes, insubmissos, persistentes, resistentes e resilientes demarcam territórios de saberes, empreendem arranjos, estratégias para sobrevivência e dinamizam e se traduzem na arte do “ bem viver”
Viva as Mulheres Feirantes!
Márcia Paim
Doutoranda UFBA / PPGNEIM e Prof da Rede Estadual de Ensino