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Aos oito anos, a fisioterapeuta Gislayne de Sousa Casagrande, hoje com 42, teve a sua primeira experiência com o câncer ao descobrir que a tia, com 15 anos, havia sido diagnosticada com a doença. A menina que sempre gostou de praticar exercícios físicos, adotar uma alimentação saudável e ver a vida pelo lado positivo perdeu o chão mais uma vez quando a doença acometeu a avó e demais tias. E a notícia não podia ter sido mais trágica quando a sua mãe era a próxima vítima.
“Foi em um exame de rotina, a mamografia, que minha mãe teve o diagnóstico do câncer de mama. Passou pela biopsia, cirurgia, quimioterapia, radioterapia e comemoramos a cura. Mas não atentamos para um detalhe: o câncer passou para o pulmão!”, recorda Gislayne. “Esse é um dos riscos que muitos desconhecem. Quando minha mãe sentiu muita falta de ar, corremos para o hospital onde descobrimos metástase pulmonar através de uma tomografia”, lamenta.
A fisioterapeuta narra que a mãe era uma “super hiper mega mãezona”, de coração gigante. “Lutou muito. Foi forte e deixou muitos momentos felizes que vivemos intensamente nos últimos anos”, frisa. “No entanto, existem alguns tipos de câncer que não te dão chance de lutar porque são muito agressivos. Foi assim com ela e com todas as outras mulheres da família que morreram pela mesma causa”, enfatiza.
A má experiência levou Gislayne a tomar uma decisão: optou por fazer a retirada completamente das duas mamas porque foi detectado um gene em mutação chamado BRCA1. “Quando fiz a mastectomia, tinha vários nódulos que foram encaminhados para biópsia. Aliás todos os tecidos que foram retiramos submeteram a investigação. Meu maior temor, enquanto aguardava o resultado, era fazer a quimioterapia e ficar careca. Imaginava eu sem cabelo e ficava tensa, triste, insegura, envergonhada, enfim. Isso mexe com a autoestima, o emocional, o físico e o fisiológico”, relata.
Hoje ela não tem dúvida de que foi a melhor decisão. “Prefiro ter passado pelos procedimentos que passei do que morrer sem chance de lutar como foi com as mulheres da minha família”, assegura. A fisioterapeuta entendeu que autoestima é se aceitar como é e soltar as vulnerabilidades. “A alegria de ter mais uma chance me fez ver o belo da vida. A leveza de saber que houve o afastamento da possibilidade de desenvolver o câncer já compensa toda dor de experimentar as etapas da mastectomia e reconstrução”, revela.
Foco da campanha Outubro Rosa, o câncer de mama é, depois do câncer de pele não melanoma, o tipo de tumor maligno que mais acomete as brasileiras. Mas não é só este carcinoma que assusta as mulheres. Outros tipos de tumores afetam a saúde da mulher e podem ser prevenidos, como o câncer de colo do útero, o câncer do endométrio, o câncer da tireoide e o câncer colorretal.
Para a oncologista Milena Aparecida Coelho Ribeiro, a palavra-chave é prevenção. “O mês é uma excelente oportunidade para ampliar a discussão sobre a qualidade de vida e saúde da mulher. Vai além, cria espaço para que a campanha ganhe repercussão nacional. Quebra mitos e esclarece aquilo que muita gente desconhece”, afirma. A conscientização e a adoção de hábitos saudáveis reduz 30% do aparecimento dos casos.
Segundo Milena, os exames de rastreamento também servem para encontrar câncer em uma população sem sintomas e tem o objetivo de aumentar o tempo de vida com o tratamento adequado. “Em outras palavras, um exame de rastreamento serve para encontrar um tumor que já estava lá no momento do exame, e não para prevenir que ele exista”, esclarece.
Pesquisa e produção de conhecimento são as principais armas para mudar o cenário, pois é por este caminho que os médicos encontrarão novas e melhores maneiras de ajudar a população a prevenir, diagnosticar, controlar e tratar doenças, salvando vidas. E essa é a visão defendida pelo oncologista Gabriel Felipe Santiago. “O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama. Esse processo gera células anormais que se multiplicam, formando um tumor. Por isso a necessidade constante em buscar novos conhecimentos, novas terapias, novos caminhos”, destaca. Segundo ele, há vários tipos de câncer de mama. Por isso, a doença pode evoluir de diferentes formas. “Alguns tipos têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem mais lentamente. Esses comportamentos distintos se devem a características próprias de cada tumor que aparecem com uma proporção em média de 10% genético e 90% por mudança de hábito”, acrescenta.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima mais de 66 mil novos casos em 2020 para a doença que já contabilizou 17.763 mortes, sendo 17.572 mulheres e 189 homens, em 2018, segundo dados Atlas de Mortalidade por Câncer – SIM. E pasme, o câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.